Antes de começarmos,
devo dizer um pouco sobre um companheiro meu que me inspirou a escrever sobre
esse assunto. Desde a primeira vez em que conversamos, sabia que ele seria
alguém importante pra mim, e eu não estava errado. Apesar de todas as
características que nos tornavam imensamente diferentes um do outro, havia
também todas aquelas que nos tornavam perfeitos melhores amigos. Conforme eu o
conhecia, essas últimas se tornaram as mais evidentes. Juntos, passamos por
bons e maus momentos, e cada um deles aumentava o sentimento. Ele mora num
livro, num filme e num seriado de TV, mas sua morte me ficar triste como se
morasse na minha casa. Ainda de luto, depois de alguns dias, algumas perguntas
me vieram à cabeça, e ela sobre elas que iremos falar.
Por que nos emocionamos
com filmes, livros, novelas ou seriados? O que eles nos dizem sobre nós e os
que nos cercam? Até que ponto eles nos afetam e influenciam nossas vidas?
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Em A Rosa Púrpura do Cairo, Cecilia é a garçonete que vê sua vida mudada quando um personagem de um de seus filmes favoritos sai das telas e ganha vida. A partir daí, ela precisa escolher entre o real e o imaginário
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Antes de tudo, é
necessário entender que toda arte, por mais surreal que seja, faz parte de um
ciclo que tem início em um elemento da vida real: o artista, a partir de algo
existente, cria uma obra fictícia. Uma vez que essa obra é passada ao público,
aqueles que assistem, mesmo sabendo que é fictícia, ligam-na a vida real e
procuram aplicá-la em suas próprias realidades. É então que ocorre a
identificação e o leque de possibilidades abre-se ainda mais: cada pessoa que
tem contato com a obra a interpreta de maneira diferente, e consequentemente é
influenciada de uma forma diferente pela mesma. Por exemplo, num filme onde
toda uma família morre de forma trágica, alguns chorariam pela morte dos pais,
outros pela dos filhos, outros pela situação como um todo, e outros sequer se
sentiriam comovidos. Há, na própria ficção, algumas obras que podem nos ajudar
a entender um pouco melhor o assunto.
Em A Rosa Púrpura do
Cairo (1985), escrito e dirigido por Woody Allen, Cecilia (Mia Farrow) é uma
garçonete que utiliza o cinema como fuga para os problemas que enfrenta no seu
cotidiano: além de viver sob a Grande Depressão, que assolou os Estados Unidos
durante os anos 30, ela sofre por causa de seu marido, um bêbado, violento e
desempregado que ela trabalha para sustentar. Dentre outras discussões, de
forma metalinguística, o filme fala sobre a visão que o público tem do cinema e
como cada filme pode atingir de maneiras diferentes determinadas pessoas.
Cecilia usa o cinema para preencher os vazios de sua própria realidade.
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Com acontecimentos reais inseridos na trama fictícia, The Newsroom revisita fatos
importantes e permite um novo olhar sobre eles
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É claro que não são
todas as pessoas que veem os filmes dessa forma. Em A Rosa Púrpura do Cairo,
Woody Allen evidencia apenas algumas das inúmeras maneiras de como o público
pode ser atingido. Paralelos a situação de Cecilia,, temos aquelas pessoas que
na ficção, encontram respostas sobre si mesmos nos personagens com que se
identificam, projetam decisões com base nas situações mostradas, aprendem a
lidar com determinados problemas, a não cometer determinados erros, etc.
E essas identificações
não são apenas pessoais, mas também sociais. Cada obra, mesmo as fantásticas,
funciona como retrato de uma região e uma época (seja a época de criação da
obra ou a da história que ela conta). Com um pouco de atenção, é muito fácil
perceber isso. Basta uma olhada nos filmes Clube dos Cinco, As Vantagens de Ser
Invisível e Spring Breakers, por exemplo, pra notar semelhanças e
diferenças na juventude estadunidense dos anos 80, 90 e 2000, respectivamente.
2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, é mais um exemplo. Com sua reflexão atemporal, o filme põe em vista as questões
existencialistas que tomavam conta do pensamento filosófico durante a segunda
metade do século 20, e o fascínio que havia na época em relação ao espaço. Há também as obras que, expondo a visão política de seus
autores e/ou personagens, convidam o público a observar de forma crítica o seu
próprio sistema político, como o livro 1984, de George Orwell, e até a série
The Newsroom, criada por Aaron Sorkin. Outro exemplo de fácil compreensão dessa
conexão direta entre a arte e a sociedade é a música: em todo o mundo, os estilos
e gostos musicais variam de lugar para lugar e geração para geração, e para que
isso aconteça existe um motivo, que é a forma como essa música se relaciona com
as pessoas daquela região, naquele momento.
O que vale dizer sobre
a arte em geral é que possui uma importância que por vezes não é notada. Os
filmes que assistimos, as músicas que ouvimos, os livros que lemos, as roupas
que usamos, as fotos que compartilhamos, os quadros que enfeitam nossas
paredes, falam mais sobre nós mesmos do que possamos perceber. Mais do que
sons, mensagens, imagens e painéis, a arte também serve de espelho.
Por: Matheus Souza
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