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sábado, 10 de agosto de 2013

O Cinema Realista


Após a recorrente fama de novidade que o cinema carregou até o século trinta, o cinema alcançou nessa mesma época a busca por temas mais próximos da realidade do espectador - não que já não o tivesse o feito antes, mas agora ele se destaca. Por incrível que pareça, falar do cinema realista é mais difícil que falar do surrealista, e isso deve-se pela alta detalhação e meticulosidade nas obras. O gênero que mais bebe nessa fonte é o drama que em sua maioria discute questões humanas como a busca por algo pessoal e intangível. Algumas pessoas interpretam o cinema realista erroneamente ao dizer que os finais são obrigatoriamente ruins daqueles que o mocinho não fica com a mocinha no final porque isso é inconcebível na realidade. Mas essa interpretação está errada. Não importa o quão uma situação possa parecer difícil de acontecer, deve ser considerado se isso é viável na vida real e o mocinho pode ficar com a mocinha se os dois estiverem vivos. É entendível essa interpretação por parte de algumas pessoas levando em conta que muitas buscam o cinema como um meio de escape da realidade que talvez não as satisfaçam, sendo assim, quando assistem um filme com o final triste, elas interpretem como cinema realista. Para melhor detalhação vamos aos filmes:

500 Days of Summer (2009) - Marc Webb

500 Days of Summer é um exímio exemplo dos filmes que as pessoas pegam para cristo quando se trata de cinema realista. A melancólica interpretação de realidade do filme cria um efeito interessante e apaixonante de empatia pelo espectador, o tom pastel - quase sépia - da fotografia nos faz pensar estar vivendo um sonho tênue e tudo isso desmorona no final. A mudança é clara quando comparamos as cenas em que Gordon-Levitt está apaixonado com Deschanel e as últimas, em que os dois seguiram caminhos diferentes - o tom que antes evidenciava um delicioso sonho, agora nos entrega uma fotografia contrastante de tons escuros (como as de as roupas pretas e sociais de Gordon-Levitt e a cidade) e claros (como a natureza à volta e a beleza de Summer). Porém, apesar da separação do casal, o filme termina com o contentamento de Gordon-Levitt e a chance que ele dá à uma nova paixão. Pensando assim, o filme já não parece mais tão triste, e podemos ver agora uma intenção de mensagem: No fim, se der errado, vamos seguir em frente. E essa é a verdade, não importa se algo não deu certo, as pessoas seguem em frente, interpretem isso como uma coisa boa ou não.

Trilogia Batman (2005, 2008, 2012) - Christopher Nolan





















Muitos consideram que Christopher Nolan viaja muito para ser considerado um diretor realista, mas não é bem por aí. Isso é evidente no seu alto cuidado com a meticulosidade de suas obras e a necessidade de explicar as ações de seus personagens. Após Inception (que o fez ganhar fama de diretor surrealista), Batman Begins, The Dark Knight  e por fim The Dark Knight Rises botou em pauta se era realmente essa a característica mais presente e pretensiosa de suas obras. Apesar da trilogia de Batman ser sobre um super-herói, o filme cuida de temas como politica, segurança humana e, mais uma vez, sobre a auto-satisfação e bem estar do protagonista. Tudo isso é apresentado em filmes com pouco mais de duas horas de duração e uma fotografia escura e agressiva. Gotham é para o Batman de Nolan o que Nova York foi para Travis Bickle de Scorsese. A situação de Gotham na trilogia serve de metáfora à insegurança atual do subúrbios das grandes cidades do mundo, enquanto a high-society bebe martíni e vai a eventos sobre o futuro, a população restante sobrevive trabalhando e ficando fora de problema.


Catch Me If You Can (2002) - Steven Spielberg

Catch Me if You Can é uma outra vertente do cinema realista - aquele filme que é baseado em fatos reais, mas que se utiliza (claro) de dramatização para enriquecimento da obra. Steven Spielberg se saiu muito bem quando tratou de focar o filme no por que de Frank Abagnale Jr. (personagem de Leonardo Di Caprio) estar fazendo aquilo e não em como ele fez o que fez.

Taxi Driver (1976) - Martin Scorsese

Um dos meus filmes prediletos, Taxi Driver de Martin Scorsese é um retrato fiel à Nova York da época dos veteranos de guerra. O filme se trata sobre Travis Bickle, um veterano de guerra que está em busca de algo que o satisfaça, mas ele não sabe ao certo o que é. Em busca disso, ele arruma um emprego, um affair e um objetivo - matar um politico. Ele trabalha em cima disso e a transição da passagem do Travis de antes com o de depois mostra a ele que não conseguirá matar o politico. Sua ansia é tamanha por fazer algo, que ele concentra todo esse desejo em Iris (personagem de Jodie Foster) e a ajuda matando o cafetão que a gerenciava e os capangas do mesmo. Como Travis é inexperiente e é considerado um cívil, é claro que ele não se sairia muito bem, e apesar de matar todos os bad guys, Travis é quase morto.
Nova York é retratada no filme como um lugar sem segurança e uma verdadeira selva de cada um por si. A poluição, ruas sujas e o tumulto de pessoas evidenciam o crescimento da industrialização e a crise econômica e depressiva da cidade. No final, Travis vê que as coisas não são tão ruins e sua perspectiva parece mudar quanto as pessoas e também quanto a si mesmo. I got some bad ideas não é mais o pensamento presente em Travis.



















The Goodfellas (1990) - Martin Scorsese

The Goodfellas (também de Scorsese) é, ao contrário de Taxi Driver que se trata sobre a ascensão pessoal de alguém, este se trata sobre o declínio de Henry Hill (personagem de Ray Liotta). Os cuidados tomados pela gangue de Robert De Niro no filme evidenciam questões identificáveis na vida real como: Não atirar em público, manter uma boa relação com a família e tomar cuidado com os gastos para não serem pegos pela Receita Federal. Após todo esse cuidado, a ambição humana é o que mais conta e o grupo de amigos da mesma gangue se dividem aos poucos quando começam a desconfiar de si mesmos quando o cerco ameaça apertar. O envolvimento com drogas por parte de Henry torna sua vida um inferno, afetando tanto sua relação profissional quanto familiar, assim, deixando-o à beira mar.

Por fim, o cinema realista trate-se de obras mais empáticas e em algumas das vezes pode não ser a mais pessimista e sim se tratar mais sobre questões pessoais e mais próximas à realidade. Sejam essas questões pessoais ou de todo mundo, a realidade é vista pelo cinema como um romance é visto pelos poetas, a clareza e transparência de situações pode não ser as mais aceitáveis, mas são a verdade e se tratam apenas disso, da verdade.

Por: Danilo Silva


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