Meu particular gosto pela escrita despertou muito cedo, aos seis para ser exato e começou a tornar-se uma paixão aos oito quando escrevi um arco de contos que ainda mencionarei mais pra frente e por fim aos doze minha paixão havia se tornado um trabalho autônomo sem quaisquer qualidades profissionais (tais quais não possuo até hoje). Porém, eu não era tão compromissado e organizado quanto parece quando descrevo minha infância de contos, pequenos livros e histórias maneiras.
Aos doze anos eu enfrentei algo que não entendi até hoje, o inicio do desinteresse pelos meus brinquedos e aventuras dramatizadas ao vivo e à cores no quintal da minha casa junto a meus soldados de brinquedo, meus Max Steel, e alguns bonecos sem gênero e nome definidos que possuíam características bem distintas uns dos outros que acabava criando situações engraçadas nas brincadeiras. Mas então aconteceu. Comecei a parar de brincar, parar de inventar histórias com os bonecos e a me interessar mais por tecnologia, livros maiores e coisas do gênero. Isso é perfeitamente normal, mas não entendo como me desapeguei tão facilmente dos meus brinquedos que eu adorava tanto (porque foi uma luta chegar no número de brinquedos que eu consegui). Apesar disso, eu continuava jogando vídeo-game, games no PC, indo ao cinema e coisas que todo pré-adolescente gosta de fazer. Mas dava um certo remorso olhar meus brinquedos na caixa de brinquedos e virar as costas e fazer coisas que eu considerava maduras.
Sabe aquela cena de Toy Story em que o Woody imagina o Andy desinteressado por ele e deixando ele de lado? Eu, no fundo, sabia que meus brinquedos "sentiam" a mesma coisa quando eu deixei eles de lado.
Algum tempo depois, eu comecei a perceber que mesmo com a ávida leitura, eu havia perdido o interesse por escrever e há algum tempo eu não tinha ideia para histórias. Me decepcionei comigo mesmo. Por um longo tempo eu me senti um inútil porque nada me dava a liberdade criativa que a escrita me dava. Foi então que eu comecei a forçar a cuca e a escrever qualquer balela que me viesse à mente. Fácil não foi, mas não posso dizer que não foi proveitoso.
Numa tarde qualquer após a aula, eu estava voltando para casa quando tive uma ideia que chamei de muito maneira. Eu estava suado por causa da aula de educação física que eu tinha acabado de prestigiar, e quando eu tive a ideia eu corri pra casa.
Me joguei no sofá e fiquei olhando para a parede imaginando cenas e mais cenas de uma história ainda sem forma. Era sobre um homem que queria se vingar de um vilão cheio de firulas tecnologicas que havia matado sua família por causa de assuntos governamentais. Era isso, eu tinha uma história sobre vingança e anti-heroísmo na ponta da língua, e comecei a detalha-la a cada dia. Numa tarde tão quente quanto um meio-dia cearense, eu observo ao lado da TV três personagens que eram muito importantes no meu universo. Eram eles: Cinco Max Steel (que tinham nomes específicos que não revelarei), um boneco do MegaMan (aquele da promoção do McDonald's) e um dvd piratão de Batman Returns. A relação foi imediata e os personagens da minha até então história sem personagens detalhados foi revelada a mim como um presente do meu subconsciente. Lá estava eu, duas semanas depois escrevendo a história que eu chamaria de O Justiceiro.
O Justiceiro propriamente dito era uma mistura do drama de Bruce Wayne e seu heroísmo filantropo e o heroísmo cômico do Max Steel; enquanto o vilão era o MegaMan, um homem cibernético que trabalhava para que a Ásia conquistasse o mundo.
Depois disso eu comecei a recordar o quão importante eram minhas brincadeiras. Eu tinha diferentes patentes para meus brinquedos e diferentes funções; assim eles foram meus primeiros personagens. Nesse sistema criado por mim e minha mirabolante mente, meus Max Steel estavam no topo da piramide de grau de importância no universo. Logo após eles, todos os sidekicks (que geralmente eram os bonecos de promoções do McLanche Feliz).
Demorei um certo tempo para terminar O Justiceiro e me senti bem satisfeito com as trinta e seis páginas de caderno que ele rendeu. Após essa epopeia desconfortável que vivi, eu decidi não parar. Assim, comecei a escrever mais e mais e sempre me baseando no mesmo modelo: Herói com drama pessoal que serve de motivação para ações filantrópicas e o vilão que não mede sua sede por poder e está cego pelo seus ideais e ideias impossibilitando que veja o outro lado da história. Assim, o conflito se baseava não só na derrota do vilão malévolo quanto também na obrigação do herói de faze-lo enxergar o porque da sua causa estar sendo defendida naquela história.
Obviamente, eu não tinha essa interpretação sobre minhas histórias quando eu tinha doze anos.A continuação d'O Justiceiro veio e ele então virou um mercenário que matava qualquer um que matava por razões prejudiciais à pessoas boas, mas isso fazia dele um herói ou ele havia se tornado aquilo que ele repudiava tanto? Alguns meses depois, descobri o Justiceiro da Marvel (dá um desconto, eu não comprava todos as hq's da banca e nem entrava tanto na internet) e todos começaram a desconsiderar minhas referencias à Max Steel, Batman e MegaMan ao dizerem que eu havia apenas copiado o Frank Castle.
Mesmo tendo minha história ignorada por todos os meus amigos e colegas, esse pequeno pedaço da minha criatividade suada foi o que me devolveu ao interesse pela escrita numa época em que eu estava começando a ter contato com pessoas que já bebiam, fumavam cigarros e a famosa verdinha do Bob. Posto de volta no caminho que eu estou até hoje, meu interesse por histórias foi além das páginas de caderno. O interesse pelo cinema cresceu, as histórias aumentaram, surgiu o apreço por escrever roteiros de cinema e aqui estou eu, escrevendo para vocês; hoje empregado e podendo comprar todos os filmes, livros, hq's que eu quiser, ou quase todos. Além disso, apesar de ter influenciado muito na minha infância, a escrita me ajuda até hoje. Seja onde quer que eu esteja, é por causa que eu escrevo que eu consigo me relacionar e simpatizar com as pessoas, consigo trabalhar e prever situações que possam ser desagradáveis e até sacar uma fala que pode ter magoado ou desconsertado alguém. Virei uma pessoa mais calculista e cuidadosa.
Por fim, eu perdi todas essas páginas de caderno, mas a história (como puderam notar) ainda está na minha cabeça. Quem sabe um dia eu não tecle uma versão mais aprimorada do meu Justiceiro e não publique para vocês lerem. Bom, pelo menos, meus brinquedos ainda estão aqui.
Memory Card #1 de Danilo Silva
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